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Mindset do judiciário e a transformação digital: como vencer a inércia?

Artigo por Klaus Riffel – CEO Whom e Doc9

A transformação digital no Direito é uma realidade proporcionada pela revolução tecnológica, que impactou todo o mercado. Apesar disso, esse é um nicho extremamente tradicional, e tanto profissionais experientes como os que estão ingressando na área podem se assustar com a velocidade das mudanças.

A figura do advogado vem se transformando: esse profissional deixa de ser aquele que atua em um escritório lidando com pilhas de documentos e papéis e passa a ganhar eficiência e praticidade em sua rotina, podendo atuar de forma mais estratégica e criativa. 

Mas a mudança gerada pela transformação digital também traz novos desafios. Hoje, é preciso entender os caminhos que irão possibilitar que a segurança e a inclusão que já foram conquistadas no mundo “real” também estejam presentes no mundo virtual.

Conversei sobre esse importante tema com Paulo Silvestre, jornalista no Estadão e LinkedIn Top Voice Creator, Cibele Fonseca, Diretora de TI do escritório Demarest, e Celina Bottino, diretora no ITS Rio na primeira mesa.doc. O debate foi realizado no stand do Whom na Fenalaw 2022, e teve como tema “Mindset do judiciário e a transformação digital”. Confira os principais insights neste artigo.

Na prática, a tecnologia é implementada no jurídico?

Transformação digital na advocacia é o nome dado à modernização da atuação dos advogados por meio da adoção das tecnologias digitais com o objetivo de alcançar melhores resultados e serviços.

Essa transformação vai além da metodologia utilizada: ela tem relação especialmente com a mudança de cultura e de mentalidade no mundo do Direito.

Nesse sentido, o advogado do futuro é aquele que usa os recursos tecnológicos disponíveis para sua atuação profissional para aumentar sua eficiência e produtividade. Dessa forma, é possível entregar os melhores resultados e atrair mais clientes.

Mas, em um mercado tão tradicionalista como o do Direito, será que os advogados já estão fazendo uso da tecnologia disponível para alcançar mais eficiência ou essas soluções ainda não estão sendo colocadas em prática?

Em nossa mesa.doc, Cibele Fonseca – do escritório Demarest – destacou que a transformação que está acontecendo agora no mercado jurídico já aconteceu em outros setores há alguns anos. A realidade é que a pandemia de Covid-19 acelerou esse processo e obrigou os advogados a se adequarem a ele. Nesse sentido, o contexto da pandemia ajudou as empresas a entenderem que elas podem usar a tecnologia muito além de sua atividade-foco (ou core business).

O Direito, portanto, vem sim enfrentando um processo de modernização. Conforme trazido pelos especialistas presentes no debate, é seguro pontuar que esse processo acontece de forma mais lenta do que em muitos outros campos. No entanto, justamente por esse grau de resistência e pela natureza tradicional do jurídico, podemos dizer que esse processo, apesar de por vezes vagaroso, é ainda mais transformador em nossa área.

Paulo Silvestre na mesa.doc

Antigamente, a tecnologia era usada apenas para o core business. Hoje, ela é usada até em tarefas acessórias para as quais não havia investimento devido à crença de que investir em tecnologia é caro.

Isso faz com que a transformação digital se torne algo muito mais transversal.

Dentro desse debate, criam-se brechas para outras temáticas essenciais que tangenciam a implementação de inovação e tecnologia no Direito. Entre elas, a saúde mental e a valorização do profissional da área legal. Cibele ressaltou em nossa conversa que as automações e outras soluções tecnológicas são essenciais para que haja mais tempo para os advogados praticarem a beleza do Direito. 

Dessa forma, a inovação assume um papel que serve não apenas para fins quantitativos de otimização de demandas e aumentos de faturamento: ela serve para devolver o tempo aos profissionais do Direito. Em outro bate-papo que foi promovido pela Doc9 para falar sobre agilidade em escritórios de advocacia, falamos sobre o protagonismo da tecnologia na valorização da saúde mental do profissional do Direito. Clique aqui e confira a matéria completa!

A resistência à tecnologia não é exclusividade da área do Direito

Na era da transformação digital, a maior dificuldade dos advogados não é a adaptação ao uso das novas tecnologias, mas a mudança de mentalidade para entender que a mudança tecnológica trará benefícios ao seu trabalho.

Essa resistência é comum em diversos outros mercados. Em especial, quando se trata de profissionais que estão na área há mais tempo e que sempre fizeram seu trabalho seguindo um sistema analógico. Normalmente, isso se dá por dois motivos:

  1. Porque esses profissionais não entendem o valor da evolução tecnológica;
  2. Porque eles têm medo de serem substituídos.

Mas hoje já temos casos de profissionais que tinham medo dessa mudança e, quando entraram em contato com a tecnologia e perceberam como ela facilita seu trabalho, buscaram mais soluções de automação.

Como os novos profissionais podem se adequar às mudanças tecnológicas?

Para lidar com essas mudanças, os profissionais do Direito precisam desenvolver habilidades que os ajudem a lidar e se destacar nesse novo cenário. Em especial, aquelas que não podem ser substituídas pelas máquinas.

É necessário rever a grade dos cursos de Direito e incluir matérias que são essenciais para a prática hoje em dia. Além disso, é preciso ter em mente que toda empresa hoje é uma empresa de tecnologia.

Além da formação, nos escritórios é preciso ter a iniciativa de implementar a transformação digital em seu dia a dia. Isso pode ser feito por meio da promoção de treinamentos e cursos, bem como da premiação dos profissionais que favorecem essa mudança de cultura.

Também é preciso investir em um setor específico de Tecnologia da Informação (TI), que conte com profissionais capacitados para instruir e ajudar na formação contínua dos sócios, advogados, estagiários e outros funcionários.

Além disso, é preciso analisar as tecnologias disponíveis que irão promover melhorias efetivas na rotina dos escritórios. Por último, é preciso investir em marketing jurídico para fazer as divulgações no meio digital e impulsionar o crescimento do escritório.

Tecnologias jurídicas devem ser desenvolvidas a partir de necessidades reais do dia a dia da área

O sistema jurídico brasileiro é o maior sistema de cortes do mundo. Nenhum outro país tem tantos tribunais quanto o Brasil. Também existe todo um ecossistema ao redor, que inclui advogados, operadores de direito, Ministério Público, juízes, etc.

Nesse cenário, as estratégias tecnológicas devem ser implantadas com base nas necessidades reais de todos esses agentes e dos clientes dos escritórios. É preciso mapear essas dores e analisar as tecnologias disponíveis para entender quais realmente conseguirão resolver essas questões.

Dentro do contexto jurídico brasileiro, trazemos alguns exemplos de iniciativas desenvolvidas com base nas necessidades identificadas nos próprios tribunais. São elas:

  • O Supremo Tribunal Federal (STF) desenvolveu um sistema de inteligência artificial em parceria com a Universidade de Brasília para ler os recursos extraordinários e identificar aqueles que são vinculados a temas de repercussão geral;
  • O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN) é um dos tribunais que desenvolveu um sistema de automatização de realização de penhoras online, chamado POTI;
  • O Tribunal de Justiça de Rondônia (TJRO) desenvolveu um sistema chamado Sinapses, para trazer celeridade aos processos e prover serviços de AI para integração com outros sistemas.

No mercado, temos como exemplo o Whom?, desenvolvido pela lawtech Doc9. Este software de gestão de acesso e monitoramento de atividades permite que os gestores de escritórios de advocacia compartilhem certificados digitais de forma segura e personalizada.

Os advogados, estagiários e outros profissionais precisam do certificado digital dos gestores para acessar sistemas jurídicos e executar suas tarefas do dia a dia. Porém, isso traz um enorme risco, já que com o certificado digital é possível executar ações como a transferência de propriedade de bens como imóveis e veículos.

Identificamos que diversos clientes da Doc9 possuíam o hábito do compartilhamento de certificados digitais e buscamos desenvolver uma tecnologia que reduzisse os riscos envolvidos nessa ação, com dados de rastreio, proteção dos dados pessoais e restrição de acessos.

Os profissionais da área devem ter a consciência de que essas tecnologias não vêm para substituir o advogado ou tirar seu emprego, mas para desafogar e fazer com que o profissional não precise perder tempo com o trabalho mecânico e repetitivo. “Dessa forma,  ele pode se dedicar, inclusive, a tarefas mais nobres”, ressalta Silvestre. 

O futuro do Direito

O advogado também é um empreendedor, que está no mundo dos negócios e precisa entender de liderança, inovação, comunicação, marketing e diversos outros assuntos. Tudo isso está envolvido na transformação digital do Direito e, consequentemente, no futuro da área.

Dessa forma, é preciso desenvolver habilidades comportamentais que vão além da técnica relacionada à advocacia. O advogado do futuro será o profissional que domina diversas áreas do conhecimento para se manter competitivo no mercado.

Assim, em um futuro próximo, nossos convidados acreditam que os profissionais da área começarão a entender a necessidade da adoção da tecnologia. “Além disso, os profissionais do mercado serão substituídos por uma geração que já vem preparada para a multidisciplinaridade na área do Direito”, aponta Celina Bottino.

Para Cibele Fonseca, o futuro do Direito pode ser definido por três itens: 

  1. A questão da colaboração;
  2. O foco no consumidor, que ainda não é muito praticado nessa área;
  3. A adoção das tecnologias existentes e de tantas outras que surgirão.

Já Paulo Silvestre acredita que “a transformação vai acontecer devido ao exemplo”. As pessoas vão enxergar a forma como a tecnologia está sendo utilizada e entender as soluções que podem trazer para sua realidade.

E você? Como acredita que será o futuro do Direito?

Klaus Riffel

CEO da Whom e Doc9

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